Uma noite de sono um tanto quanto duvidosa, digamos assim. Mesmo com o mÃnimo de conforto, dormimos um pouco e conseguimos descansar o suficiente para acordar cedinho e tentar resolver o problema do carro, pois precisávamos seguir viagem. Se você não faz ideia de que problema estamos falando, clica aqui para se atualizar e vem com a gente ver o desfecho dessa história.
Andre foi o primeiro a levantar. Tomou café sozinho e foi direto para a oficina que achou, duas quadras do hotel. Os anjinhos argentinos estavam mesmo do nosso lado. Eu e o João ficamos no hotel arrumando as coisas, precisávamos fazer uma limpa no nosso cooler, que estava recheado de comidinhas de vários lugares que passamos. Malas arrumadas, hora de se aventurar naquele chuveiro estrambólico. Gente! Geeeente! Além de não ter nem um desnÃvelzinho na área do chuveiro, o que me fez imaginar o banheiro e o quarto inundados, um vento brotava sei lá de onde e fazia aquela cortininha imunda grudar na bunda. Era cada pulo, que vocês não tem ideia. Que experiência! E no final das contas, devo confessar que nem foi água para o quarto, ela ficou ali no banheiro mesmo, depois puxei ela com o pé, usando havaianas, óbvio. Jurei que eu não tocaria naquele rodo.
Banho tomado, hora de descer para o café da manhã, enquanto esperávamos o Andre voltar da oficina ou dar algum sinal de vida. O café não era dos piores, afinal tinha medialunas e dulce de leche. O atendimento do hotel também era bacaninha. Todos nos receberam muito bem. Sentimos que nessa cidadezinha não é muito comum turistas brasileiros.
Quase 11 da manhã, recebo uma mensagem do Andre com uma foto do carro pendurado, de ladinho e o mecânico analisando a roda. Um parafuso. Ficamos na estrada por causa de um parafuso do freio, que voou. A gente com medo dos mecânicos na Argentina e quem fez a cagada foi o mecânico brasileiro. Antes de pegarmos a estrada ainda no Brasil, fizemos uma baita revisão, para garantir que tudo estava em perfeitas condições. Pois bem, parece que não analisaram direito, né. Mas, dos males o menor.
Para arrumar, eles precisavam de um parafuso especÃfico, mas não estavam encontrando. Então compraram um modelo que era parecido com o do Peugeot, cortaram e fizeram o acabamento para ficar como o que precisavam. Colocaram também uma trava quÃmica para garantir que não soltaria novamente no caminho. O parafuso original do Peugeot só vendia com o conjunto completo da sapata, que custava $100.000, o equivalente a R$10.000,00. O parafuso que eles fizeram, mais a mão de obra, custou pra gente $800, o equivalente a R$80,00. Obrigada, Argentina! Quem fez essa maravilha pra gente foi o pessoal da Neumáticos Debona.
Carro resolvido, aquele alÃvio no peito e seguimos viagem. Depois de passarmos por uma ponte imensa e muito bonita, paramos para abastecer ainda em Santa Fé, onde pagamos R$ 4,17 na gasolina. Nesse trajeto, de Santa Fé a Federación, passamos pelo nosso primeiro túnel subfluvial, que atravessa o Rio Paraná. Logo na entrada tem um pedágio de R$5,00. A gente esperava algo super divertido, já que estarÃamos passando com o carro por baixo da água, né? Mas foi bem tranquilo e normalzinho. Claro que só pelo fato de saber que estávamos embaixo da água já foi emocionante.
A estrada nesse trecho estava muito esburacada, diferente da maioria que passamos pela Argentina. O asfalto dos hermanos, durante toda a viagem, deixou a gente de queixo caÃdo. Lógico que tirando aquele trecho de rÃpio que pegamos bem ao sul da Argentina.
Na ida, passamos por esse mesmo trecho e tentamos visitar a casa La Alemanha, que vende produtos coloniais e regionais, mas estava fechada. Aproveitamos então para parar na volta e ver se ela era mais interessante que a vizinha Regionales Maria, que visitamos na ida. A estrutura da La Alemanha é maior e mais organizada, mas achei muito turÃstica, com produtos mais industrializados e muito mais caros que os da Maria. Acabamos comprando apenas doce de leite para a famÃlia e amigos, que eram regionais. Mas se você quer conhecer as conservas pra lá de inusitadas, pare para conhecer o Maria, que tem uma infinidade, desde conserva de coelho a conserva de capivara e flamingos.
A medida que Ãamos nos aproximando de Federación a estrada foi ficando mais bonita, mais arborizada e muito mais tranquila. Um pouco antes de chegar em Federación, tem um pedágio em Yeruá, que pagamos R$ 7,00. Para quem tem o tal do Tele-Pase argentino, que é como o nosso Sem-Parar, custa R$ 5,00.
Quando chegamos, ficamos apaixonados pela cidade. Federación é limpa, organizada e muito charmosa. Esse cantinho da Argentina é conhecido pelas suas águas termais e pelo poder medicinal que essas águas tem. O hotel que ficamos era bem simplesinho, mas muito gostoso. E o melhor: TINHA BOX NO CHUVEIRO!
Antes do sol se pôr fomos dar uma voltinha a pé pela região. O hotel fica bem em frente ao Rio Uruguai. É um cantinho tranquilo, recheado de famÃlias aproveitando o momento, tomando seus mates, sentados a beira do rio.
Tentamos mais uma vez subir o drone, mas sem sucesso. Os ventos por aqui são bem fortes e o nosso drone é muito leve. Lá se foi ele, metros e metros, levados pelo vento. Uma pena, o lugar é lindo mesmo!
A noite fomos jantar em uma “churrascaria” bem ao lado do hotel. Na fachada, um super anúncio de música ao vivo e carnes para todos os gostos, a tal da parilla, mas ao estilo buffet. Entramos, nos acomodamos e a casa começou a encher. FamÃlias e mais famÃlias, coradinhas do sol da piscina, levantavam, se serviam no buffet e voltavam felizes da vida pra mesa, com os olhinhos mirando as carnes que estavam no prato. Ok, nossa vez! No buffet, um misto de pratos que nunca tÃnhamos visto na vida com outros que já vimos, mas com aparência bem diferente. Nada de arroz, feijão, farofa. Tinha uma salada de batata que não era maionese mas era cremosa, batata assada com ervas, purê de batatas, feijão frio temperadinho e muita salada. Lá, no fim da fila, a tão esperada churrasqueira.
Aqui você vai até a churrasqueira, escolhe os tipos de carne que estão escritos no quadrinho, o churrasqueiro corta um pedaço e coloca no seu prato. Lá da fila do buffet, vi o João escolhendo suas carnes e indo para a mesa. Logo depois, o Andre. Quando chegou na minha vez, vi lá plaquinha: CHORIZO. Opa! Essa eu sei que gosto, o Andre sempre pede. Pensa na minha cara de desespero a hora que o churrasqueiro espeta aquela linguiçona quase preta, feita de sangue. Tirei meu prato na hora e o moço ficou no vácuo, segurando a tal linguiça. Soltei um “neeeeem a pau”, ele me olhou com cara de quem não entendeu nadica e eu segui, com os olhos arregalados para a mesa.
Lógico que quando cheguei na mesa os dois já estavam rindo de mim, né? Não sou muito fã de costela e essas carnes mais gordurosas. E no menu, olha só o que tinha: chorizo (linguiça feita de sangue e não aquele corte maravilhoso), costela, costela de cervo, carne de cervo recheada, galeto e linguiça de cervo. Lógico que quando viajamos queremos provar tudo que é diferente e tudo que não estamos acostumados a comer. Mas carne de cervo e linguiça de sangue foi demais pra essa viajante aqui.
Depois que o pessoal se deliciou com as carnes, foi a vez da música ao vivo. O cantor, todo animado, começou a arranhar algumas notas no violão. A música parecia um misto de sertanejo com música indÃgena e um pouquinho de funk. Pra você entender, clica aqui e escuta essa. Era um ritmo contagiante, onde todo mundo levantou e dançou. O povo argentino é beeem festeiro, assim como nós.
Depois do susto com o carro, do banheiro em 50 tons e um jantar dançante regado a chorizo, merecemos uma noite muito bem dormida, né? Boa noite, viajantes!
Obs: Valores em real, com o câmbio do dia 05/01/2019.
Mais ou menos 10/1.
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