Santiago sempre esteve na nossa lista de lugares desejados, mas nunca pensamos que estaríamos por aqui em pleno verão, com 39 graus lá fora. É muito interessante como alguns km fazem a temperatura mudar drasticamente. Estávamos agora pouco no Ushuaia, tremendo o queixo de frio, com 3 graus aliados aos ventos cortantes da Patagônia. Agora estamos aqui, agradecendo pelo apartamento com ar condicionado que alugamos pelo Airbnb.
Mesmo com o calorão, carregamos o carro e partimos conhecer a cidade. Santiago é uma cidade muito movimentada, com o trânsito mais maluco que já vimos durante toda a viagem. Prédios antigos e clássicos, ao lado de prédios monumentais, super modernos. Alguns pontos da cidade, mais no centrão mesmo, decepcionam. As ruas são muito sujas, com lixos espalhados nas esquinas e vários muros pichados. Mas andando um pouco mais, pudemos ver que a cidade tem muito a oferecer, com ruas floridas e incríveis montanhas ao redor de toda a cidade.
No bairro Providencia, bem próximo ao centro, paramos para sacar mais um pouco de pesos chilenos. Passamos por muito mais pedágios do que o previsto e lá se foi nosso dim dim, que havíamos trocado. Com o nosso cartão Travel Money conseguimos sacar em qualquer banco com a bandeira Visa, mas prepare-se para o choque: TRINTA E TRÊS REAIS de tarifa para saque. Portanto coleguinha, troque o suficiente pra não ter que sacar por aqui e pagar essa facada.
Dinheirinho no bolso, fomos procurar algum cantinho para almoçar. Em uma esquina, com um cheiro maravilhoso, encontramos um restaurante e resolvemos parar. No cardápio, alguns prato conhecidos, como asinhas de frango com molho barbecue e outros que nunca ouvimos falar, como o tal da chorrillana, que nada mais é que uma base de batatas fritas, com uma camada de carne ensopada bem temperada e dois ovos fritos pra fechar com chave de ouro. De brinde, algumas fatias de pão para chuchar no ovo. Tem como ficar melhor? Tem! Tudo isso por um preço justo: R$ 128,00 para 3 pessoas, com 4 refrigerantes e mais os 10% do garçom.
Decidimos aproveitar a cidade conhecendo o Cerro San Cristóbal e sua famosa vista da cidade de Santiago. A montanha, que é resquício da Cordilheira dos Andes, tem 880 metros de altura e é um dos 3 mirantes de Santiago, além de ser o segundo ponto mais alto da cidade. Para entrar no parque, como estávamos de carro tivemos que pagar uma taxa de R$ 20,00. Quem chega a pé ou de bicicleta não precisa pagar essa taxa. O parque é imenso e bem movimentado. Conseguimos uma vaguinha para estacionar o carro bem pertinho da bilheteria.
Ficamos alguns minutos na fila para comprar os tickets do funicular e do teleférico. Lembram aqueles 39 graus da manhã? Agora com certeza já tinha passado de 40 e o sol estava de rachar. Muita, mais muita água e protetor solar para aproveitar o dia.
A compra dos tickets foi um pouco confusa, pois queríamos ir de funicular e voltar de teleférico. Queríamos as duas experiências, e foi isso que compramos na cabine. Ou, achávamos que tinha sido. Para subir, esperamos alguns minutinhos e o funicular chegou, trazendo o pessoal que estava lá em cima. Entramos e o trajeto dura menos de 5 minutos. A vista lá é maravilhosa e o ventinho mais ainda.
Caminhamos mais um pouco pelo parque e seguimos em direção aos teleféricos. Nosso ticket dava direito a subida de funicular e a descida de teleférico, só não sabíamos que a descida teria que ser pelo outro lado do parque, bem longe de onde deixamos o carro. Sem saber disso, fomos de teleférico até o ponto final, passando por 2 estações e já embarcando novamente para retornar. No primeiro trajeto, tudo certo. Embarcamos – com o teleférico em movimento. Isso mesmo, ele não para pra você subir. Tem que ir na corridinha mesmo – e seguimos faceiros admirando a cidade lá de cima. Já no segundo trajeto, o guia pediu o novo ticket, que seria do retorno. Explicamos que compramos ida e volta, que o ticket que entregamos, era o que havíamos recebido. Ele continuava pedindo o novo ticket e a gente sem entender bulhufas. Quando ele percebeu que ficaríamos ali, sem entender, deixou a gente embarcar. Anote: chilenos nervosos são mais difíceis de entender.
Entramos no último teleférico e ficamos encucados com isso. Será que a gente comprou errado? Mas pedimos ida e volta! Chegando no ponto em que pegaríamos o funicular para descer o cerro, vimos uma guarita que vendia ingressos e resolvemos perguntar. Ele confirmou: compramos ida e volta, mas a volta de teleférico é pelo outro lado da parque. Nos olhamos, olhamos para o sol, olhamos para cada gotinha de suor e decidimos comprar um novo ticket para descer de funicular, o mais perto possível do carro. Andar naquele sol, por quase 1 hora – essa era a distância do ponto final do teleférico até o ponto que deixamos o carro – não era uma opção.
Problema funicular resolvido, hora de pensar no problema dim dim, que acabamos de criar. Como tínhamos sacado pesos chilenos suficiente para passar nosso único dia no Chile, vimos que tinha um dinheirinho sobrando, então fomos tomar sorvete e comprar algumas águas para a viagem, assim não ficaríamos com dinheiro encalhado, certo? Errado! Esquecemos dos pedágios que teríamos até Mendoza. Pesquisamos muito, mas muito mesmo na internet os valores dos pedágios, mas nenhum valor estava atualizado. Todas as informações que conseguíamos eram de 2010, 2013, no máximo de 2015, e bem confusa. E agora? Agora é hora de cruzar os dedinhos e torcer para que o pouco que sobrou seja suficiente para passar. Poderíamos sacar mais dinheiro, claro, mas teríamos que ir até algum banco, o que demora e a taxa custa TRINTA E TRÊS REAIS, lembra? E o mais importante era que queríamos passar na cordilheira ainda de dia. Pois bem, dedos cruzados então, né?
Hora de voltar e seguir viagem. Na estrada, saindo de Santiago, é muito legal ver a mistura do poder da natureza, com montanhas imensas, e o poder do ser humano, com prédios imponentes e gloriosos.
O caminho para Mendoza é de tirar o fôlego. Árvores verdinhas ao longo da estrada e ao fundo, alguns picos nevados. É quase inacreditável que estávamos em um calor de 39 graus, olhando para montanhas que ainda tinham gelo acumulado.
Passamos pelo primeiro pedágio, torcendo para ser um valor baixinho. Nessa hora, vimos que nosso anjo da guarda também quis conhecer a Patagônia. Em Santiago, a maioria dos pedágios tem cobrança automática, que é feita pela tag instalada nos carros. Essas cancelas são exclusivas, não dá para pagar em dinheiro. Mas o que fizemos? Erramos e fomos para uma dessas, claro. Nos aproximamos da cancela e nada de ela abrir. Aproxima mais um pouquinho. Nada de atendente. Mais perto um pouquinho. Ninguém pra ajudar. Vamos voltar? Atrás de nós, uma caminhonete se aproxima e estaciona bem coladinha do nosso carro, esperando pela sua vez de passar no pedágio. De repente, a cancela abriu. Passamos. Mas passamos bem devagar para entender o que estava acontecendo. Vai que do nada surgisse alguém para cobrar? Quando olhamos para trás, a moça da caminhonete estava lá, parada, nada da cancela abrir pra ela. Ela se aproximou tanto do nosso carro, que a tag do carro dela, abriu a cancela pra gente. Cobrança feita, travou aquela passagem pra ela. Estacionamos o carro e lá foi o Andre, correndo com o dinheiro na mão, para pagar a moça. Ela simplesmente manobrou, foi pra outra cabine e passou. Acho que nem entendeu o que aconteceu. Obrigada, moça da caminhonete. Você não imagina o quanto ajudou. Agora tínhamos um troquinho a mais para os próximos pedágios. Um pouco antes de iniciar a subida bem íngreme da cordilheira, paramos em mais uma praça de pedágio. Esta nós pagamos normalmente, foram R$ 32,00.
Passamos no coração da Cordilheira dos Andes, com o sol se pondo e fazendo um espetáculo à parte. O pico dos morros passou a ficar laranja, suas silhuetas repletas de curvas ficaram ainda mais evidentes e a temperatura caiu drasticamente. Em cada curva, a emoção de ver que estávamos em um penhasco. Tudo muito bem sinalizado, principalmente para as épocas de neve.
Passamos por vários túneis que ficavam bem na beira desses penhascos. As laterais eram abertas, feitas com colunas que deixavam a gente espiar a cordilheira. Nesses, a função de túnel mesmo, não existia. Chegamos à conclusão que eles estavam ali para evitar que alguma pedra ou a neve que se soltasse das montanhas, caísse nos carros que estavam passando pela estrada. O amarelo dos túneis, o verdinho das montanhas, com o laranja dos picos e o cinza escuro do asfalto garantiram fotos incríveis.
Estávamos chegando em um dos lugares que mais queríamos conhecer durante a viagem: a estrada Caracóles. Aos pés de uma das estradas mais perigosas do mundo, começamos a contornar as primeiras das suas 27 curvas extremamente fechadas. Aos poucos, fomos ganhando altitude e vimos a magnitude da Cordilheira. A estrada por si só já é incrível, mas acompanhar o pôr do sol lá de cima, foi uma das coisas mais bonitas que já vimos.
Lá em cima, no topo das montanhas, chegamos à aduana chilena. Estávamos nos despedindo do Chile em grande estilo e loucos para voltar. A aduana era muito simples, mas pasmem: água quente em todos os banheiros. Ficamos imaginando o frio que faz por ali.
Como a amiga da caminhonete deu aquela ajuda com o pedágio, acabamos ficando com um pouco de pesos chilenos para gastar na banquinha da aduana. Dessa vez, com a certeza de que estávamos a um passo de não precisarmos mais. Compramos alguns chocolates e um cafezinho, para seguir viagem até Mendoza.
Nessa aduana não tivemos que fazer nenhum procedimento, pois estávamos saindo do país e ela servia apenas para quem estava entrando. Como estava sem nenhuma sinalização e as aduanas não seguem um padrão de procedimentos, paramos, entramos e nos mandaram seguir. Atravessamos a fronteira e andamos por mais uma hora pela cordilheira até chegarmos na aduana argentina. Nessa, passamos reto na primeira vez. Além da escuridão, também não tinha sinalização para entrada e muito menos informações que ali era uma aduana. Ela fica afastada da rodovia, na contramão de quem vai à Argentina. Um pouco pra frente, encontramos alguns policiais e paramos para perguntar se estávamos longe. Tivemos que voltar alguns km para chegar na aduana e fazer todos os trâmites.
Essa foi a aduana mais complicada que paramos. Por um lado, a facilidade de fazer todo o processo de imigração de dentro do carro, por outro, a burocracia na análise dos documentos. Na primeira cabine, já na entrada da aduana, pegamos a ficha de controle, que entregamos na cabine 1, junto com os documentos dos passageiros. Aqui, o documento do João, nosso filho menor de idade, ficou retido. Os documentos dos menores são enviados direto para a polícia chilena autorizar a saída dele do país. Nessa hora, mesmo sabendo que estamos fazendo tudo certinho, dá um certo frio na barriga, pois eles não te explicam o que acontece. Só te dizem que você deve seguir o processo e depois voltar pegar este documento. Passamos para a cabine 2, onde entregamos o documento de entrada do carro no país, o documento do carro, o documento do proprietário do carro e a ficha de controle, que já tinha sido carimbada na cabide anterior. Com isso, o carro foi para a inspeção, onde revistaram todas as malas e fizeram milhões de perguntas. “Para onde estão indo? De onde vieram? Já estão voltando para o Brasil? Ficam quanto tempo em Mendoza? É uma viagem de lazer? Quantas pessoas tem no carro? Pra que toda essa bagagem?”. A medida que vamos respondendo, o pessoal vai relaxando e começam a perguntar mais interessados na viagem. É muito engraçado ver que estão ali querendo passar a imagem de durões, mas ao mesmo tempo querem se envolver nas histórias da viagem. Fomos liberados, mas deixamos o pessoal querendo um cantinho no carro, para compartilhar a nossa aventura.
Chegamos em Mendoza já de madrugada e mesmo assim fomos muito bem recebidos pelo dono do apartamento que alugamos no Airbnb. Uma simpatia de pessoa, todo atencioso, nos mostrou com detalhes o apartamento, que era uma graça, super limpo e confortável. Ótimo para uma bela noite de sono para continuar sonhando com os Andes. Boa noite, viajantes!
Obs: Valores em real, com o câmbio do dia 03/01/2019.
Mais ou menos 150/1.
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