A maioria de nós brasileiros, conhecemos praticamente nada da terrinha dos nossos hermanos. Quando pensamos em Argentina, logo vem à cabeça as paisagens de Buenos Aires, com um show de tango ou um churrasco de parrilla. Para os mais atrevidos quem sabe, uma paisagem de Puerto Madero. Temos que admitir que nós também só conhecíamos a Argentina pelo que vimos em Buenos Aires e em Porto Iguazu em outras visitas. Mas a Argentina tem muito mais do que isso.
Entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, fizemos uma road trip partindo de Curitiba até o Ushuaia, no extremo sul da Argentina (e do mundo). Para fazer essa viagem, cruzamos a Argentina de cima a baixo, indo pelo litoral e voltando pelo interior do país. E claro, como a maioria dos turistas desavisados, fomos surpreendidos com a beleza e a variedade das paisagens do país vizinho.
Acompanhe com a gente um pouco do que encontramos por lá:
ENTRADA NA ARGENTINA
Nós optamos por entrar na Argentina pela cidade de Paso de Los Libres.
Assim que chegamos, tomamos um pequeno susto. A cidade é pobre, a limpeza e a organização não são o forte do lugar. Em alguns pontos, dá até um certo receio, aquela sensação de insegurança, sabe? A sede da imigração é precária e muito suja.
Ficamos um pouco apreensivos de deixar o carro dormindo na rua, em frente ao hotel (o hotel era bem legal, clica aqui pra ver), mas aos poucos a gente começa a se relaxar. A cidade não é tão perigosa quanto pensamos em um primeiro momento e depois de conhecer o pessoal local, ficamos mais tranquilos.
A paisagem é de uma cidade baixa, sem montanhas ou prédios altos. Não é uma cidade turística, mas sim de passagem. Muitos viajantes fazem a passagem de fronteira por ali.
CAMINHO PARA BUENOS AIRES
De cara, saindo de Paso de Los Libres sentido Buenos Aires, a primeira coisa que a gente percebe é a infinidade de estrada retas, sem nenhuma curvinha para dar aquela emoção, sabe? São horas e horas em linha reta. Como o relevo é bastante plano, vê-se ao longe a estrada sumir da vista.
A paisagem é bonita, com bastante verde, bem tropical. Também se percebe uma boa estrutura viária se compararmos com as nossas rodovias.
MI BUENOS AIRES QUERIDA
Chegando à capital argentina, já se sente aquele clima nostálgico, com um centro histórico bastante interessante. Buenos Aires é uma cidade grande, com trânsito intenso e muitos cantinhos interessantes. Cada bairro tem suas características, sendo boêmios, gastronômicos ou residênciais, como toda grande cidade. As vias principais da capital são largas e contam com grandes praças, cercadas de prédios centenários.
No centro mais antigo, vielas de paralelepípedo completam o ar bucólico da cidade.
Em Buenos Aires, os passeios mais piegas não devem ser descartados: passear pelo Puerto Madero, ver um show de tango, visitar a Flor Metálica e conhecer o Caminito, são daqueles passeios que você tem que fazer.
SERRA ARGENTINA
Aqui no sul do Brasil temos uma região muito montanhosa, o que nos propicia serras com vistas incríveis. Todas as serras aqui são bastante tropicais, com florestas densas, de grande altitude, com neblina e riachos cortando a paisagem. Em Sierra de la Ventana, conhecemos uma paisagem serrana completamente diferente.
Durante o caminho de Buenos Aires até a serra, você percebe que a vegetação vai mudando, ficando mais rasteira. A quantidade de árvores diminui e um tom dourado começa a ganhar espaço. As estradas começam a diminuir, ficando mais estreitas, dando ao local um clima mais intimista.
Ao final da tarde, quando o sol bate na vegetação dourada, parece que vemos fios de ouro saindo do chão, sendo balançados pelo vento. O clima é bem característico, com o calor marcante do verão e o frio rigoroso durante o inverno. Muitos hotéis oferecem uma estrutura de repouso e relaxamento bastante completa nessa região. No hotel que ficamos, por exemplo, tinha a piscina externa, ótima para um banho de sol e a piscina coberta, aquecida, ideal para os dias de frio, você pode conferir clicando aqui.
LITORAL ARGENTINO
Depois da serra, seguimos pelo litoral argentino, com um longo trecho da rodovia à beira mar. Sim, é beira mar mesmo, apenas alguns metros nos separavam da água.
Quando passamos por essa região, entendemos por que as praias de Santa Catarina ficam abarrotadas de argentinos no verão. Lá, além do litoral ter a água muito fria e revolta, afinal já estamos próximos ao fim do mundo, as praias não tem faixa de areia como aqui no Brasil. No lugar da areia branquinha e fofinha que estamos acostumamos, por lá encontramos um litoral rochoso e composto por um lodo escuro, que além de não ser convidativo para um banho de sol ou brincadeiras à beira da praia, deixa a paisagem escura e sombria.
Olhando a geografia por alí é impossível não fazer alguma referência ao norte europeu.
Como o local é muito diferente, resolvemos fugir do roteiro e conhecer uma cidade litorânea, então escolhemos Las Grutas. Vimos no Google que existiam vários buracos nas rochas que formavam um paredão em frente ao mar, que pareciam grutas. É uma paisagem que não vemos em qualquer lugar pelo Brasil.
A praia tem um pouco mais de areia, mas ainda assim com um tom bem escuro e parecendo uma lama. O paredão de pedra faz com que a praia fique uns 10m abaixo do nível da rua. É uma praia completamente diferente das que temos por aqui, com uma beleza também super diferente. Mesmo no auge do verão, não tinha movimento como temos em nossas praias.
Os ventos nessa região são muito fortes. É incrível ficar admirando os pássaros brincando com as correntes em frente ao mirante.
TERRA DOS DINOSSAUROS
Assim como a Argentina, a própria Patagônia tem uma variedade muito grande de paisagens.
Ao começar o passeio pela Ruta 03, percebemos uma paisagem mais seca e isso se intensifica à medida que vamos nos afastando do litoral. Em alguns pontos, começamos a perceber alguma semelhança com a vegetação da savana, com campos de vegetação baixa e o horizonte a perder de vista.
O tom alaranjado do céu ao pôr do sol, nos dá a nítida sensação de que encontraremos um dinossauro a qualquer momento, passando por cima do carro como em um filme do Spielberg. E não é para menos, os fósseis de dois dos maiores dinossauros do mundo, o Titanossauro e o Argentinossauro foram encontrados nessa região. Na entrada de Trelew tem até uma estátua em tamanho real. Dá uma sacada na foto pra ver se não parece real!
FIM DO MUNDO
Depois de muito rodar pela Patagônia, com estradas repletas de animais cruzando a pista em diferentes paisagens, começamos a ver picos nevados, mesmo no auge do verão.
A euforia de perceber que estamos chegando ao fim do mundo é grande. O cenário volta a parecer europeu, mas agora lembrando os Alpes. Só montanhas altas, em clima de uma vila, mas bem estruturada. Ushuaia é encantadora.
O mar calmo em frente à cidade e hotéis cravados nas montanhas próximos a neve, dão um clima mais pitoresco ao local. As paisagens mais belas ficam escondidas nos arredores da cidade. No Ushuaia, você precisa ter disposição para trilhas e caminhadas, só assim consegue ver o que a natureza tem de mais bonito para oferecer.
PATAGÔNIA CONGELADA
Voltando do Ushuaia pela Ruta 40, conhecemos a Patagônia congelada. El Calafate é um destino bastante turístico, conhecido por quem desfruta um pouquinho mais a fundo o turismo na Argentina.
Uma pequena cidade, que mistura os vales e planícies patagônicas, com o gelo das famosas geleiras. E põe gelo nisso! Perito Moreno é uma área congelada maior do que a cidade de Buenos Aires, e a experiência de caminhar sobre ela é inesquecível. Vale muito conhecer.
TREKKING E MOCHILEIROS
Um pouquinho ao norte de El Calafate, fica a cidade de El Chaltén, com paisagens de tirar o fôlego. Com lagoas de cor esmeralda e muitos picos nevados, é destino certo dos mochileiros e da turma que gosta de praticar trekking.
A cidade é super pequenininha e charmosa, cercada por altos paredões de pedra. Ao sentarmos para um lanche rápido na lanchonete da rodoviária, a gente se acaba se sentindo como se estivesse na preparação para escalar o Everest, de tanta gente fazendo planos para desbravar as montanhas da região.
El Chaltén ficou no nosso coração e é um dos destinos que vamos voltar com mais tempo com toda certeza.
A FAMOSA BARILOCHE
Acho que todo brasileiro, pelo menos do sul do país, já pensou em algum momento conhecer Bariloche. Destino famoso, próximo e com possibilidade de praticar esqui.
Bariloche é uma cidade bastante turística, com ares de uma vila europeia. A avenida na beira do lago passa uma leve sensação de estar no litoral, não fosse pelo vento forte, gelado e cortante. O calçamento central oferece um comércio mais intenso, recheado de lojinhas e restaurantes. A pracinha é outro charme da cidade, que já tem um porte maior do que as últimas cidades que passamos, mas ainda tem aquele ar de “estamos de férias”, sabe?
As paisagens na própria estrada, chegando e saindo de Bariloche são de deixar o queixo de qualquer um caído. A gente só não parou mais vezes para fotografar pois não daria tempo de chegar à Santiago.
Em Bariloche já estava mais quentinho durante o verão, época em que estivemos por lá, então não conseguimos esquiar.
MENDOZA SEM STRESS
Gente, somos curitibanos. Apesar de adorar viajar e conhecer todos os cantos, sabemos que vivemos em uma cidade organizada, limpa e que funciona muito bem. Mesmo assim, Mendoza nos surpreendeu. A começar pela estrada. Fomos para Mendoza partindo de Santiago, então atravessamos a Cordilheira dos Andes.
Além de muito, mas muito alta, a cordilheira nessa época fica com um tom avermelhado, como um deserto. Não tem muita vegetação e apesar dos picos não estarem muito nevados (apenas os mais altos), a marcação da neve nos topos é bem visível.
A estrada já apresenta seus encantos. É nesse trecho que você vai encontrar a famosa Caracóles. O fato de você saber que está passando ao lado do pico mais alto das américas também é algo que chama a atenção.
Depois de subir a cordilheira, assim que encontrar a aduana (mesmo que seja a de sentido contrário), não esqueça de pedir uma empanada em um dos contêineres, para se sentir um aventureiro completo, admirando a vista lá de cima, com curvas e mais curvas em meio às montanhas.
Chegando em Mendoza, o encanto continua. Encontramos uma cidade organizada, com vias de acesso largas e parques bem arborizados. Aliás, todos os cantos da cidade são muito arborizados. As quadras são realmente quadradas, facilitando se achar pela cidade (não sabemos se é uma cidade planejada, mas parece).
As ruas são mais limpas do que a maioria das grandes cidades, e a preocupação em oferecer espaços agradáveis de lazer e gastronomia é muito grande. Fomos atrás de um restaurante árabe que encontramos no Google, mas para nossa sorte estava fechado. Assim conhecemos um cantinho muito gostoso ali pertinho mesmo. Quer ver um pouco mais, clica aqui e acompanha o diário de Mendoza.
O MOVIMENTO DE CÓRDOBA
Saímos da calmaria de Mendoza diretamente para a agitação de Córdoba. Lá, ficamos hospedados no bairro universitário, local de muito agito, cheio de bares e restaurantes. As pessoas parecem felizes, animadas e o movimento nas ruas é intenso. Mesmo assim, não tivemos problemas para descansar.
Córdoba é o tipo de cidade que conseguimos resolvemos tudo em uma quadra. Banco, restaurante, café, lavanderia… tem de tudo alí. As calçadas da cidade são um charme a parte.
Apesar de ser uma cidade agradável, ficamos pouco tempo porque queríamos ir um pouco ao norte, em uma cidadezinha onde poderíamos conhecer os flamingos.
A PRAIA QUE NÃO É PRAIA
Fomos até uma cidade pequenininha chamada Miramar. Ela fica um pouco ao norte de Córdoba, na beira da lagoa, um dos locais onde você pode observar flamingos na Argentina.
Essa cidade, apesar de não ser uma praia, é a cidade mais praiana que conhecemos durante nossa passagem pela argentina. Claro que não pelo fato de ter um mar, apesar da lagoa ser de água salgada.
Mas a lagoa é grande e a paisagem faz com que a cidade tenha clima de praia. Areia, sorveteria, restaurantes abertos, calor de 40 graus e barraquinhas de camelô. Difícil acreditar que não era uma praia.
Esquecendo as moscas (aliás, tirando os lugares muito frios, a Argentina toda tem problemas com moscas), o lugar é muito bacana. Tem até um hotel com cara de mal assombrado como atração da cidade.
A observação dos flamingos é feita em um local mais retirado, alguns quilômetros por estrada de terra até chegar ao canto da lagoa. Tem também uns passeios de barco que te levam para observar os flamingos, mas nós optamos por ver da terra mesmo.
TEMPESTADES
Aqui em Curitiba costumamos dizer que temos as quatro estações em um dia, mas o clima no norte da Argentina deixa a gente ainda mais confuso. Pensa em um dia de sol, bonito, com o céu azulzinho. E então, 3 minutos depois você está em uma chuva torrencial, que não te deixa ver mais que uns 5 metros pra frente do carro, com ventos que fazem você pular de uma pista para outra como se fosse um cabrito.
Agora, pense que isso dura uns 5 minutos e o sol abre lindo e formoso novamente. Siga pela estrada por mais meia hora e veja que tudo isso começará outra vez. O clima por lá tem dessas. Nuvens ultra carregadas que se formam pela junção de um monte daqueles fatores que os meteorologistas adoram explicar.
ÁGUAS TERMAIS
Já chegando de novo ao Brasil, resolvemos dar uma descansada em um local mais calmo. Escolhemos Federación como nossa base de descanso. A cidade é bem pequena, mas toda organizada para receber turistas como nós.
Diferente do sul da Argentina, em Federación o típico turista é mais velho, sem pressa e com um poder aquisitivo maior. Nós ficamos em um hotel há alguns metros do rio Uruguai, pequeno e muito charmoso, clica aqui para conferir. O clima da cidade é festeiro, mas aquela festa de tia, sabe? Restaurante bem servido, música ao vivo, jantar dançante.
O clima também é bastante praiano, quente. Um banho de piscina ao entardecer repõe as energias para retomar a viagem. Com bastante área gramada, ruas com meio fio pintadinho e pessoas passeando na beira da água com seus mates na mão. É um local bem bacana pra aproveitar horas sem olhar para o relógio.
A VOLTA AO BRASIL
Para voltar ao Brasil, o mais óbvio seria retornar por onde entramos, Paso de Los Libres, certo? Errado. Resolvemos entrar no Brasil por São Borja, assim conheceríamos um novo caminho.
Lá, mais uma vez encontramos uma paisagem diferente. Terra vermelha, lembrando muito o interior do Paraná. A cidade é bastante pobre, simples. Parece uma vilinha das novelas mais típicas da Globo, sabe? Não tem comércios, não tem gente pela rua, pouquíssimos carros. Daqueles lugares que quando você passa, quem está por ali fica te olhando, com olhos curiosos e incrédulos.
Desavisados, descobrimos que para cruzar a fronteira por São Borja, existe uma taxa que os argentinos pagam o equivalente a R$ 18,00 e os brasileiros pagam R$ 60,00. Melhor? Não. Mais bonito? Com certeza não. Mais rápido? Também não. Então porque a cobrança? Pensa em um argentino rindo de canto de boca quando pagamos a taxa cobrada por eles. Fazer o que, né?
Já no Brasil, paramos para descansar em Erechim, em Santa Catarina. Pertinho dali, fomos conhecer Marcelino Ramos, onde encontramos essa ponte, que fechou nossa viagem com chave de ouro.
Gostou dos lugares que passamos pela Argentina e quer conhecer um pouco mais sobre a nossa road trip pela Patagônia? Vem conferir esse vídeo resumão e aproveita para se inscrever no canal.
[embedyt] https://www.youtube.com/watch?v=t6yB6eppX6s[/embedyt]
Conta pra gente, qual foi a tua paisagem preferida?
Em quanto tempo vocês fizeram essa trip?
Foram 17 dias ao todo Mischa.